Posted by : Ragster
sexta-feira, 31 de janeiro de 2014
Não pensava que a sensação de perder minha esposa seria essa, ínfima, apática, como se nem tivesse feito qualquer diferença para mim. Estar nesse velório é como assistir a um daqueles velhos vídeos educativos de colégio, interminável e entediante.
Chove, a chuva começou há algum tempo, o céu estaria chorando as lágrimas que deveriam haver em mim? Preenchendo o vazio que eu não ocupei? Vou para casa, completamente ensopado.
Imaginava que, a morte dela me traria algum sentimento, alguma... diversão. Matá-la era para ter sido divertido, mas não me tirou deste grande tédio no qual a vida me coloca, uma pena, desperdicei tempo e ainda corri riscos para fazer isso.
Pensando por um lado foi interessante ver o sangue dela escorrer lentamente, bem como ver a dura expressão que ela fazia de sofrimento, uma expressão de revolta como quem não acredita em tal vil traição, pobre tola, nem imaginava que eu não possuía qualquer afeição para com ela.
Enfim termino de me secar, saindo do banheiro ouço um forte barulho de chuva com alguns trovões ocasionais, que bom estar em casa, poderia acabar ficando doente nessa chuva, vou em passadas rápidas para a cozinha, entretanto, um clarão muito maior que os outros ilumina toda a sala quando então posso ver uma grande sombra na parede com lentos movimentos que me tira o fôlego, para em seguida um apagão fazer a escuridão reinar.
Tento controlar minha respiração, não sei se fiquei nervoso com o estouro ou com a estranha sombra que vi a minha frente, peças da imaginação é a única coisa que posso dizer, de qualquer modo apresso-me para a cozinha.
Tropeçando em alguns objetos desconhecidos pelo caminho, sinto passar pelo meu rosto um conjunto de alguma espécie de fio, como se houvessem vários fios trançados oriundos do teto, desacelero para conseguir livrar-me daquilo, lembra-me até teias de aranha, franzo o cenho avançando pela escuridão. Um novo clarão ilumina o recinto, mostrando uma sala sem portas, mas com várias janelas gradeadas e diversas teias de aranha com grande tamanho espalhadas pelo recinto.
A umidade é forte no ar, ouço um chiado nervoso no ar, ao passo que uma enorme sombra começa a descer do teto, mas nada mais consigo fazer após ouvir uma simples frase de uma voz conhecida.
-- Olá querido.